Kica de Castro

“Ser diferente também tem seu lado belo”

Apresentação

Ousadia, responsabilidade e ética! Essas são as principais características do trabalho de Kica de Castro - Agência de modelos para pessoas com deficiência, tem como objetivo lançá-los no mercado publicitário e provar que beleza e deficiência física não são duas expressões contraditórias.

Novidade

A agência dá um passo revolucionário na inserção de pessoas com deficiência no mercado publicitário, com a série de books fotográficos ROMPENDO BARREIRAS. Agora, os ensaios fotográficos dos seus modelos preferidos estão disponíveis e de forma exclusiva para atender à clientela mais exigente. Saiba mais...

Matéria do Jornalda Cidade - Mato Grosso

Kica de Castro, uma fotografa diferenciada


“Fui falar com as profissionais do setor de psicologia da instituição, começamos um trabalho de resgate da auto-estima, FOTOTERAPIA”.

“Na Alemanha, existe um concurso de beleza: A mais bela cadeirante”.

“(...) cadeira de rodas, muletas, próteses, órteses, para mim, são acessórios de moda”.

“Não vejo a hora dos empresários começarem a ver que pessoas com deficiência física são tão consumidores como qualquer pessoa rotulada como “normal”.”

“Portanto, se é para falar de inclusão, que se fale num todo, incluindo a beleza e a sensualidade.”

Como você iniciou na arte da fotografia?
Tudo começou como hobby, em 1995, no curso técnico de Publicidade, nessa época o segundo grau era técnico. Quando entrei na faculdade a paixão aumentou, isso em1997. Fiz um curso livre de fotografia e me tornei profissional mesmo em 2000.

Faça um breve relato de sua trajetória como fotografa? Como e quando você iniciou esse trabalho com deficientes físicos?
Em 2000, comecei a fazer fotos sociais, principalmente casamentos, que até hoje faço. Primeiramente para amigos e familiares, depois o trabalho foi se expandindo para o mercado profissional e hoje não sei fazer outra coisa a não ser fotos...
Durante dois anos fiquei trabalhando no mercado publicitário e em algumas empresas de eventos. Porém, em meados do ano de 2002, estava estressada, sentia a necessidade de encontrar um novo desafio. Comecei a procurar novas oportunidades. E foi nos classificados de jornais de emprego que vi o anúncio: “Procuramos fotógrafos”, mandei o meu currículo na mesma hora, sem saber ao certo para onde estava mandando. Para a minha surpresa, assim que receberam o currículo, entraram em contato comigo: era um centro de reabilitação para pessoas com deficiência física (instituição filantrópica). Fui fazer o processo seletivo e acabei sendo contratada como chefe do setor de fotografia. Foi assim que tudo começou.

A mudança, naquele primeiro momento, parece que foi radical, você cobria eventos, fazia fotos para festas e passou a trabalhar com deficientes?
Sim. Chegando para o meu primeiro dia de trabalho, tomei vários “baldes de água fria”, os pacientes tinham aversão em ser fotografados, chegavam com as solicitações médicas, faziam mil perguntas: “sou obrigado mesmo a ficar de peças intimas?”, “essas fotos são para onde mesmo?”. Era uma forma bem fria, diga-se de passagem, em fotografar os pacientes. Não tinha um que não falava que eram fotos de presidiários. Era na grande maioria, para prontuário médico, fotos cientificas, posições: frente, costas e as duas laterais, com peças intimas e o número do prontuário do lado.

Para o corpo clinico, ressalto, é de extrema importância essa documentação, para publicações médicas, no caráter de acompanhar a evolução e de estudo, porém, para o paciente era totalmente invasivo. Com o decorrer dos dias, eu não me sentia fotógrafa e os pacientes não ficavam nem um pouco a vontade. Comecei a levar para o estúdio, vários acessórios, um pequeno espelho, pente, maquiagem, gel, várias bijus e, pelo menos antes de fazer as fotos para prontuário, virava para o paciente e falava que era o pré ensaio de uma revista famosa, para as mulheres falava que era para Playboy, para os meninos falava que era para a G. Assim a pessoa pelo menos tinha um motivo para rir. O gelo foi sendo quebrado, as pessoas antes de tirar a roupa, mexiam no cabelo, procuravam um brinco, e o sorriso começou a aparecer no estúdio.

E como o trabalho evolui no sentido de você montar um agência de modelos com deficiência física?
Fui falar com as profissionais do setor de psicologia da instituição, começamos um trabalho de resgate da auto estima, FOTOTERAPIA. Olha, ficamos de 2003 a 2005 desenvolvendo esse trabalho. Para a minha surpresa, em 2005 as meninas começaram a pedir orientações para o mercado de trabalho, o que elas tinham que fazer, como procurar agência, fui orientando.

Pesquisei sobre o assunto e comecei a apresentar o casting para alguns amigos micro empresários, para antigos clientes da época de publicidade. Assim, foram surgindo pequenas oportunidades na área de eventos, como promotoras e na parte de recepção.

Dei continuidade ao meu trabalho de pesquisa e percebi que tudo me levava para Europa: reality show na França, tipo Big Brother, só para deficientes. Existe um outro show do mesmo estilo na Inglaterra. Na Alemanha, existe um concurso de beleza: “A mais bela cadeirante” Isso me mostrou o quanto o Brasil realmente é desatualizado. Fui aplicando algumas coisas, em 2006 na minha pós, escrevi sobre o assunto, e fiz a minha monografia, comecei a fazer book das meninas, valorizando os aparelhos ortopédicos: por que afinal de contas, cadeira de rodas, muletas, próteses, órteses, para mim, são acessórios de moda.

Em 2007, resolvi montar agência e trabalhar exclusivamente com modelos que tenham deficiência física. Em 2008, fiz parceria com uma agência em Berlim, a Visable e hoje 2009 estamos tendo bons resultados. Ainda falta muita coisa acontecer, mais estamos no caminho certo.

Quais foram os maiores obstáculos para o desenvolvimento desse trabalho?
Sim, com certeza o preconceito, a falta de acessibilidade e principalmente a falta de sensibilidade por parte do “ser humano”.

Como está sendo a repercussão de seu trabalho?
Graças a Deus, estamos com destaque na Alemanha e em Portugal. O que abriu muitas oportunidades aqui no Brasil, tive que desenvolver, com já disse, primeiramente uma parceria com a Visable, para que o Brasil tomasse conhecimento do meu trabalho.

Quais são suas perspectivas?
Não vejo a hora dos empresários começarem a ver que pessoas com deficiência física são tão consumidores como qualquer pessoa rotulada como “normal”. O mercado esquece de falar com esses consumidores.

Existe, por exemplo, a facilidade de se comprar um carro zero Km, algumas isenções de taxas. Mas o deficiente físico compra o carro, se furar o pneu, ele paga o mesmo valor, e ai dele se não tiver um seguro para poder chamar um guincho. O combustível, a mesma coisa, o preço não muda. Ou seja, são consumidores da mesma forma. Ninguém dá nada de graça. Por que não investir em produtos adaptados? Veja o número de deficientes físicos no Brasil, que trabalham, pagam as contas e, se não pagam no dia, não se tem vantagem nenhuma. Pagam multa também. Portanto, se é para falar de inclusão, que se fale num todo, incluindo a beleza e a sensualidade.

Existe a lei de cotas, para se ver, como não existe a sensibilidade aqui, as empresas são obrigadas a contratar a pessoa com deficiência, se isso não acontecesse, muitas pessoas não iam ter a oportunidade de mostrar o talento.

Outro exemplo: lei de cotas para negros no mundo da moda. Veja que coisa. Eu tive a oportunidade de conhecer a Isabel Fillardes em um evento e falar com ela. Ela não quer desfilar por obrigatoriedade de uma lei, e sim pelo que ela é: uma profissional qualificada para tal. O que queremos é a mesma coisa, ser reconhecidos como ser humanos “que tenham uma beleza diferenciada”. Em minha opinião, beleza e deficiência física, não são palavras contraditórias.

De qualquer forma, você acredita que a fotografia pode auxiliar no resgate da auto estima da pessoa deficiente?
O simples fato de se ter um cuidado, de fazer maquiagem, de arrumar o cabelo, escolher o figurino, abusar nas posições, de fazer poses, de ajudar o modelo a cruzar a perna, de colocar em uma posição “ousada” na cadeira de rodas já levanta a auto estima.

Fazer as fotos rindo, conversando, colocar música, isso faz o clima ficar bem descontraído.

Você sobrevive exclusivamente de sua atividade como fotografa?
Sim. Tenho que fazer muitos casamentos, aniversários, eventos corporativos. São essas fotos, que “pagam” as minhas contas.

As atividades da agência, ainda não estão arcando com as despesas. Mais isso não desanima. Pelo contrário, estou firme e forte, sei que o mercado esta começando a ver os meus modelos com outros olhos.

De qualquer forma ainda oriento a todos os meus modelos no sentido de que tenham outra profissão e estudem muito.

Qual é a identidade do trabalho de Kica de Castro? Quais as características?
Kica de Castro abusa nas poses. Nas fotos, o elemento ortopédico sempre aparece (cadeira de rodas, muletas, bengalas... etc). Não uso photoshop, minhas modelos são lindas e a maquiagem o mais leve possível.

Como está indo o trabalho de sua agência?
Estamos evoluindo. Temos alguns trabalhos bem significativos: a marca TudiCofusi, roupas, fez um desfile onde colocou duas de nossas modelo na passarela, uma deficiente auditiva e outra amputada, juntamente com modelos sem deficiência.

Dias 3 e 4 de setembro, vamos estar em Goiânia para o lançamento de um livro: Trabalhos e Pessoas com Deficiência, da editora Juruá. Esse é um evento da IX Jornada Cientifica de Psicologia da Universidade Católica de Goiás. Lá vamos ter a oportunidade de mostrar os trabalhos da agência e também de agenciados que são: músicos, jornalistas, atletas...

Qual a mensagem que você deixa para os leitores do Jornal da Cidade Online?
Tem um trecho da música Infinito e Particular de Marisa Monte, que fala assim:

“Vem, cara, me retrate,
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte”

Levo isso como meu lema na agência.


Desfile Moda Inclusiva

Kica de Castro-Agência de Modelos para Pessoas com Deficiência, esteve presente na final do 1° concurso de Moda Inclusiva, com 6 modelos de seu casting, cada um representando uma estilista na passarela, mostrando, mais uma vez, a seriedade e a credibilidade de seu trabalho.
Confira alguns momentos do Desfile.

Modelo Jucilene Braga seu cão guia Charlie e a estilista Larissa Carrasco



Modelo Diego Madeira


Modelo Caroline Marques


Modelo Bruna Renata




Governador José Serra e os modelos Diego Madeira e Caroline Marques




Modelo Bruna Renata e a fotógrafa Kica de Castro


Ator Julio Rocha e a modelo Bruna Renata




Caroline Marques no ensaio


Parte do jurado do desfile



Kica de Castro também foi convidada para integrar o corpo de jurados do desfile.

Luz, que lá vem ela na passarela!

Aconteceu nesta quinta-feira, 28 de maio de 2009, no shopping Frei Caneca, na capital paulista, na 25ª Casa de Criadores, o coletivo TudiCofusi apresentou sua coleção verão 2010. Intitulada “Meu Mundo Diminuiu”, inspirada no conceito de mutação/adaptação do homem ao meio ambiente, especificamente no processo de transformação, ambiental e climática, que o mundo atravessa. A marca desfilou no segundo dia do evento, num mix de “peças mutantes e com deformações” desenvolvidas a partir dessa necessidade. “Nossa coleção é uma resposta ao aquecimento global, causa da inversão das estações e de fenômenos como o El Niño, o efeito estufa e a sensação de ter o Pólo Norte em Salvador!”, contam as idealizadoras da marca, a estilista Alexandra Fernandes e as designers Stella Fernandes, Keila Akemi e Márcia Higuchi.

Apostaram na mistura de cores frias e quentes, indo do branco, bege e azul ao verde-cítrico, laranja e vermelho, voltada para os tons da natureza, de plantas e bichos. Destaque para a combinação de biquíni e casaco com shape de inverno e tecido levinho, um dos looks que melhor sintetiza o conceito do verão TudiCofusi.

Além da preocupação com a questão ambiental, outro diferencial do coletivo TudiCofusi foi inserir na passarela, em apoio ao Projeto Viva a Diferença, mulheres com deficiências físicas. Para isso contaram com duas modelos do casting da fotógrafa e publicitária
Kica de Castro, Any Marques, (deficiente auditiva) e Haonê Thinar, (amputada de uma perna desde os nove anos em virtude de um tumor ósseo) que é destaque da agência alemã Visable, de Dirk Gelbrecht, com sede em Langelsheim, representada no Brasil por Kica de Castro.

O acontecimento no evento foi um importante passo para romper os paradigmas relacionados à deficiência e provar que nada impede a realização de sonhos e objetivos traçados.

“A TudiCofusi mostrou, através da gente, que não existe idade, raça, estado físico, para a moda. A moda é o que você acredita que ela é, sem subterfúgios. É um vicio chamado vaidade, que pulsa na veia da gente em cada passo na passarela, cada fotografia, era uma mirada da lente da câmera no coração do modelo “, opina Any Marques.




Já para Haonê Thinar, vai além da quebra de preconceito, de superação de limites.
“Quero ter reconhecimento como profissional, sair nas ruas e ser fotografada, ter meu nome citado, receber o carinho e admiração das pessoas”.



“Quando a platéia começou me aplaudir, senti uma emoção indescritível”.

Kica comenta que está orgulhosa e satisfeita com o profissionalismo e seriedade com que as meninas encaram o trabalho. São pontuais, responsáveis e disciplinadas, cuidam da alimentação, do corpo e da mente. Apesar da pouca experiência, mostram o seu empenho e talento, provando que o trabalho com deficientes físicos é algo que pode e deve ser encarado como profissão e não somente como algo assistencialista, como ainda acontece...
“A emoção durante o desfile foi grande. No final, saí correndo para dar um forte abraço nelas, que estavam com um sorriso maior que o rosto e brilharam na passarela”, comenta Kica, emocionada.

Backstage

Any Marques, Marcelo, Keila Akemi, Stella e Haonê Thinar

Any Marques, Haonê, consultora de moda Gloria Kalil
e Marcelo- projeto Viva a Diferença

Any Marques

Foto Sandra Silva de Oliveira
Any Marques, Haonê Thinar,
Kica de Castro-fotografia/Visable,
Stella Fernandes-TudiCofusi e
Marcelo - projeto Viva a Diferença

No atelie da marca, da esquerda para direita, Juliana Vargas Ferreira (estudante
de pós-graduação em Jornalismo Literário ), estilistas da Tudi,
Sandra (mãe de Haonê), e as modelo Any Marques e Haonê Thinar.

Haonê e Rodrigo Nonato

Antes do desfile Haonê usa camiseta de Evandro
LEGAL CAMISETAS VESTINDO INCLUSÃO


Confira o desfile


Colaboradores e parceiros – Nesta edição, colaboram com o coletivo TudiCofusi: Dani Ruano, no styling; a banda Bazar Pamplona, à frente da trilha sonora; a estilista Debora Casa, que assina os biquínis; o coletivo Televisão de Cachorro, com uma projeção na passarela; e a artista plástica Edilaine Cunha, na estamparia. A TudiCofusi conta ainda com as parcerias da Vicunha, Doutex e Converse. O estúdio Aretha garante o release e a redatora Ângela Ribeiro completa com seus Delírios em Palavras

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FICHA TÉCNICA DESFILE //Tudis/Alexandra Fernandes/Keila Akemi/Marcia Higuchi/Stella Fernandes //Estilista colaboradora//Debora Casa //Stylist//Dani Ruano //Calçados//Converse All Star //Beleza//Lavoisier //Estampas//Edilaine Cunha //Vj/Televisão de cachorro //Trilha//Bazar Pamplona //Release//concepção//Estúdio Aretha //Ilustra máscara//Wagner Viana //Delírio em palavras//Angela Ribeiro //Modelos convidadas//Andrea Company/Flávia Cunha //Modelos VIVA A DIFERENÇA//Marcia Gori //Modelos Kica de Castro - Fotografias e Visable//Haonê Thinar/Any Marques//Bluetooth Marketing//Confraria Mobile //Captação//estúdio 101 //Cobertura//Louvre809

O coletivo TudiCofusi, projeto Viva a Diferença e Kica de Castro-Fotografias/Visable fizeram a diferença nesta edição da Casa de Criadores.
Inclusão é isso, respeitar a diversidade, acreditar no potencial humano e dar oportunidade a todos!

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Fotógrafa paulistana usa sua arte e mostra a beleza do diferente

Por Thaís Naldoni/Redação Portal IMPRENSA

Ao pensar em uma agência de modelos, certamente você imagina um local repleto de estúdios, câmeras, maquiagens, figurinos, fotógrafos e modelos lindos e de corpo perfeito e escultural, certo? Parte do seu pensamento pode estar correto, mas a descoberta da beleza vai muito além de corpos perfeitos, e quem mostra isso é a fotógrafa e publicitária Kica de Castro, proprietária de agência que leva seu nome e é especializada em levar ao mercado modelos com alguma deficiência física.

Ajudar pessoas com deficiência a reencontrar sua beleza, sua segurança e sensualidade não é tarefa das mais fáceis. Mas a experiência conquistada com um emprego atípico ajudou bastante. Kica chefiou o setor de fotografia de um hospital e centro de reabilitação de pessoas com algum tipo de deficiência física. "As fotos eram registradas de maneira muito fria. O paciente usava apenas de peças íntimas e uma placa que vinha com o número do prontuário, tal e qual as fotos de presidiários", lembra.


Kica de Castro
Carina Queiroz

Os pacientes se sentiam incomodados com a invasão, ainda que as imagens fossem fundamentais para o corpo clínico. Assim, "armada" com pentes, gel, maquiagens e bijouterias, a fotógrafa conseguia a façanha não só de deixar seus clientes mais à vontade, como de ajudá-los a resgatar sua auto-estima através das fotos, trabalho mais tarde batizado de Fototerapia.

Kica de Castro
Daniela Soares


Com diversas imagens realizadas e a procura cada vez maior pela terapia através das imagens, Kica acionou seus contatos e passou a oferecer seus modelos às agências de publicidade. Mais tarde, fechou uma parceria com a alemã Visable, uma agência radicada em Berlim, que também acredita na caminhada conjunta entre beleza e deficiência física.

Kica de Castro
Flávia Siqueira

Kica conta que muitas das pessoas que fazem as fotos se redescobrem. "É muito difícil às vezes que uma pessoa com deficiência física vença seu próprio preconceito. Uma vez que ela tira as fotos e sua sensualidade e beleza são exploradas, ela volta a acreditar nela mesma. Se sente mais bonita, mais confiante, e entende que ser diferente não tem nada de errado", explica.

Kica de Castro
Haonê Thinar

Kica de Castro
Juliana da Costa

De acordo com a fotógrafa, já aconteceu muitas vezes de ela encontrar deficientes físicos lindos, fotogênicos, que certamente se tornariam grandes modelos, mas acaba esbarrando no descrédito. "Tem gente que nem acredita haver agências especializadas em modelos com deficiência física. Nisso podemos incluir tanto as pessoas com deficiência física, quanto pessoas que estão a sua volta", lamenta Kica.

Kica de Castro
Marabel Nunes

Para a publicitária, trabalhar com modelos que nasceram com deficiência física é menos complicado do que com os que adquiriram essa deficiência no decorrer da vida, seja por acidente, seja por alguma patologia. "Quem já viveu em outra condição carrega, normalmente, uma carga maior de dificuldade de auto-aceitação. E isso é fundamental para que seja aflorada sua fotogenia, alegria e sensualidade".

Atualmente, Kica conta, em seu casting, com 54 modelos, entre homens e mulheres, de 4 a 58 anos. Em razão da parceria com a Visable, em breve, a fotógrafa deve viajar com um grupo de modelos para a Alemanha, onde os selecionados serão fotografados para campanhas no país. "Agora estamos na dependência de passar a pandemia de gripe suína para que possamos embarcar". Prova mais que plausível de que deficiência física e beleza não são palavras contraditórias.

Kica de Castro
Maraísa Proença

Caso você tenha interesse em saber mais sobre a agência, os modelos ou tenha interesse em fazer uma fototerapia, basta entrar em contato com a fotógrafa através do e-mail kicadecastro@gmail.com.


Fonte: http://portalimprensa.uol.com.br

"CLICkS" ULTRAPASSAM AS FRONTEIRAS DO PRECONCEITO


Até uns anos atrás, tempo não tão distante, falar sobre deficiência era um assunto capaz de provocar constrangimento; ter defeito físico, necessitar de algum tipo de acessório para se locomover, fosse um par de muletas ou uma cadeira de rodas, significava invalidez, seres descartáveis para a sociedade. Mesmo na atualidade, com os programas de apoio ao deficiente e amplas campanhas de conscientização, ainda existe muito preconceito, discriminação e ignorância em relação aos portadores de necessidades especiais.

Imagine, então, deficientes no mundo da moda! Como pode um deficiente - cadeirante, usuário de muletas ou próteses - ter sensualidade, beleza e charme? Será possível isto numa sociedade preconceituosa e com pensamentos preconcebidos, para quem a beleza e a sensualidade têm um padrão já estabelecido?

Até algum tempo, cogitar essa possibilidade era motivo de piada ou, no mínimo, comentário maldoso. (Já vivenciei situação assim, mas, depois, conto esse fato). Entretanto, para a ousada Kica de Castro, isto não existe. Fotógrafa e publicitária, é profissional de mente aberta, com a fina percepção de enxergar além do que aparenta ser, ela fala sobre beleza e sensualidade do deficiente com propriedade, visto que possui a experiência de quem já trabalhou no mundo da moda com os estereótipos muitas vezes impostos pela sociedade.

Seu currículo inclui, desde o ano 2000, o início de uma carreira com eventos sociais, passando, de 2002 a 2007, a atuar como chefe de fotografia em um Centro de Reabilitação para pessoas com deficiência física. Foi aí, segunda ela, que despertou seu interesse e proximidade com esse mundo. Produzindo fotos científicas para prontuário médico, Kica percebia a inibição e até constrangimento por parte desses pacientes. Sentiu, então, a necessidade de trabalhar a auto-estima dessas pessoas, com a ajuda de uma amiga psicóloga. Iniciou, dessa forma, sua jornada, que considero como um trabalho “de formiguinha”, já que, no Brasil, a trajetória de valorização do portador de necessidades especiais ainda segue a passos lentos. Em outros países, como os europeus, já existem concursos no estilo “a mais bela cadeirante", realizado na Alemanha e na França, uma espécie de “reality show” somente com deficientes.

Foi assim que levou para o estúdio da instituição acessórios, maquiagem; brincava, dizendo que as fotos iriam para as revistas com fotos sensuais e ficariam famosos. Conseguia, dessa forma, que se soltassem e, confiantes nela e em si mesmos, posassem para seus “clics” com mais naturalidade e leveza. A essa prática, Kica deu o nome de fototerapia!

O resultado da persistência e, acima de tudo, sensibilidade, de Kica de Castro chegou até à mídia graças a sua ousadia, responsabilidade e, principalmente, ética. Seu “casting” vem sendo solicitado para campanhas publicitárias e revistas segmentadas. A revista Sentidos (Editora Escala) traz na capa de sua edição 48, três lindas mulheres, sendo duas delas do casting de Kica de Castro: Diolice Barbosa,19, e Daiane Lopes, 27.

O caminho aberto por Kica ajudou Juliana Costa,13, a colocar em prática seu grande ideal de ser modelo. Paraplégica, vítima de bala perdida, sempre almejou as passarelas. Não desistiu desse sonho após o acidente e o viu tornando-se realidade quando foi apresentada a Kica de Castro no programa TV Xuxa, da Rede Globo de Televisão exibido em 30 agosto de 2008. Foi contratada pela fotógrafa para fazer parte de seu casting e hoje segue com seus ensaios fotográficos, sempre acompanhada pela produção do programa TV Xuxa. Confira




Esse trabalho tomou tamanha proporção que, recentemente, após alguns entendimentos, Kica de Castro se tornou representante oficial, no Brasil, da agência alemã Visable, de Dirk Gelbrecht, com sede em Langelsheim. Essa parceria amplia os horizontes para que moças e rapazes brasileiros portadores de deficiência ingressem no mundo da fotografia profissional no Brasil e exterior. No próximo mês de maio, Kica atravessará o Atlântico, acompanhada de duas modelos de sua agência, que vão se conhecer pessoalmente e realizar seus primeiros ensaios em terras internacionais. Na bagagem, a fotógrafa levará propostas de outros grandes projetos. “Tenho muitas idéias e quero levar muita gente boa e talentosa comigo, pois me realizo quando sei que colaboro para a realização de outras pessoas, autoras de outros projetos; tento fazer parceria, porque acredito no trabalho coletivo, princípio que adoto para acontecer a verdadeira inclusão. É preciso haver união”, afirma Kica, dona de uma simplicidade envolvente.

A modelo Haone Thinar,16, que, por decisão própria e com aval de sua mãe, aos nove anos amputou uma das pernas em função de um câncer, teve seu ensaio fotográfico enviado para a Alemanha. ”Hoje, ela é modelo destaque na Visable, e está fazendo muito sucesso. Estão amando suas fotos”, diz Kica, orgulhosa de sua pupila, levando, para a Europa, a beleza da mulher deficiente brasileira.

Outra “menina dos olhos” de Kica é a apucaranense Daiane Lopes ,27, Vítima de paralisia cerebral por falta de oxigenação na hora do parto, precisa de muletas para se locomover. Engajada, colaborou nas pesquisas para a criação de um dos personagens de história em quadrinhos “Turma da Febeca”, do cartunista carioca Victor Klier, cujos personagens são crianças e adolescentes com algum tipo de deficiência ou patologia. Logo após, conheceu Kica de Castro por meio do amigo Dudé e, em sua melhor fase, mostrou todo o seu potencial em fotos lindas e sensuais. Encara isto com muito profissionalismo e disciplina. Quando Kica a convoca para a sessão de fotos, ela sai do Paraná, toma ônibus, numa viagem de oito horas, e chega na data agendada, mostrando-se determinada ao que se propôs. E não para por ai. Por conta de fotos divulgadas em toda a mídia, Daiane foi vista por Emilia Cretuchi Quartim, presidente da Adefiap (Associação dos Deficientes Físicos de Apucarana), que desenvolve um trabalho de inclusão do deficiente físico no mercado de trabalho e garante acesso a tratamentos gratuitos. Encantada com o sucesso de sua conterrânea, Emilia a convidou para ser representante do Projeto Memorial Apucarana, com parceria junto à Secretaria de Cultura local.

Patrícia Lopes do Nascimento, 24, outra fotografada, participou de desfile numa feira de noivas e também de algumas fotos de moda para lojas de bairro e, ainda, foi promotora (recepção) em eventos de uma empresa multinacional.
Diolice Barbosa, 19, tetraplégica desde os 12 anos, devido a uma cirurgia mal-sucedida, para retirada de um tumor na coluna, reaprendeu a viver. Freqüenta uma instituição que ajuda na sua reabilitação e lá aderiu ao mundo das poses, pois, dona de uma beleza peculiar e um sorriso contagiante, foi convidada a posar numa campanha interna. Foi o seu passaporte para o mundo dos flashes, com ensaios para revistas e sites.

Conheça o casting













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“Gostaria de dizer-lhes que meu objetivo é mostrar que ‘beleza’ e ‘deficiência física’ não são duas expressões contraditórias. Que pessoas com esse tipo de problema são felizes e têm os mesmos padrões de vida que as pessoas consideradas normais; e que trabalhar como modelo profissional é possível. Que existe sentido em nos preocuparmos com encontrar o rapaz, a moça, o companheiro ou alma-gêmea. E que não existe razão alguma para nos escondermos do mundo devido a um problema físico. Há muito mais num ser humano do que a perfeição física.”

Sobre

Kica de Castro é fotógrafa profissional, desde 2000. Em 2002, recebeu o convite para trabalhar como chefe do setor de fotografia num Centro de Reabilitação para pessoas com deficiência física, ficando nessa instituição, até 2007. O primeiro contato, foi para fotos cientificas, para prontuário e publicações médicas. “Confesso que isso , era de forma fria e muito invasiva para os pacientes” diz Kica.

Para o clima não ficar tão pesado, ela começou a levar acessórios: espelho, pente, gel, brincos e até perfume, isso para deixar o ambiente com cara de estúdio. Em 2003, juntamente com uma amiga do setor de psicologia, fizeram um trabalho de resgate de auto estima através da fotografia, e deram o nome de FOTOTERAPIA.

Em 2004, as meninas retratadas começaram a cobrar uma chance no mercado de trabalho, mas como modelos mesmo. “Iniciei uma pesquisa, apresentei para alguns amigos empresários, e as oportunidades de fato quase não existiam.” diz Kica. Sua pesquisa à levou a alguns fatos, como um concurso de a mais bela cadeirante, na Alemanha, uma espécie de Big Brother na França…

“Fui pesquisando, fazendo alguns contatos e no final de 2007, resolvi abri a agência de modelos para pessoas com algum tipo de deficiência física. Em 2008, fiz parceria com uma agência na Alemanha, Visable. Sendo que já mandei material fotografia de duas modelos, que já tem destaque no mercado internacional, ambas amputadas.” Agora em 2009, a parceria esta mas sólida, abrindo oportunidades para outras patologias.

Esta na moda falar de inclusão social, porem aqui no Brasil, pouco se fala de beleza e sensualidade. Muitas barreiras, pouco acesso e quase nenhuma sensibilidade. O que começou como no auxilio de resgate da auto-estima, hoje é uma opção no mercado de trabalho.

“Ser diferente tambem tem seu lado belo” diz Kica.